Legislativo

'Quem votou em mim ou não votou terá o mesmo tratamento', diz presidente Valdir Oliveira

18.308


Foto: Eduardo Ramos (Diário)
Vereador Valdir Oliveira superou a Covid e os quatro meses de internação e foi eleito presidente da Câmara de Vereadores de Santa Maria para 2022

Na condição de presidente do Legislativo pela primeira vez, o radialista Valdir Oliveira (PT), 60 anos, sente-se empolgado e otimista neste ano em que será o comandante do Legislativo da Boca do Monte. O seu entusiasmo vem da situação difícil em 2021. Lutou muito pela vida depois de ter contraído a Covid-19. Foram quatro meses no hospital, em alguns momentos, a esperança parecia ter findado, mas não para o petista.

- Nos momentos mais difíceis desse ano que passou, quando poucos acreditavam que eu sobreviveria, eu acreditei. O vereador Werner (Rempel, PCdoB) me visitou (no hospital) e disse: 'Valdir, tu vai ter que sair daí, homem. Nós precisamos de ti lá na Câmara, eu mal podia falar e disse: 'vereador Werner! Avisa o pessoal que dia 1º de julho, eu estou de volta'. E, eu saí do hospital 14 de junho e 01 de julho estava de volta de cadeira de rodas. Voltei pelo otimismo, porque eu acredito muito, então estou muito motivado -, relatou o novo presidente do Legislativo.

Valdir Oliveira é eleito presidente da  Câmara de Santa Maria

E motivos não faltam. O petista já superou uma leptospirose hemorrágica, dois acidentes de trânsito, um deles que teve sérios ferimentos nas pernas e teve dificuldades para voltar a caminhar e, por último, a Covid. Nesta entrevista, Valdir fala dos seus planos para administrar a Casa, a polêmica obra inacabada da Câmara, o apoio recebido do PSDB e a relação com o governo Jorge Pozzobom (PSDB), além do mal-estar envolvendo a vereadora do seu partido, Marina Callegaro (PT).

Diário de Santa Maria - O senhor ficará um ano na administração da Câmara. Qual será sua prioridade nesse período?

Valdir Oliveira - A prioridade é fazer com que o nosso poder Legislativo esteja mais próximo da comunidade. Nós tivemos dois anos bem difíceis, o distanciamento, a pandemia, hoje ainda a pandemia não acabou, mas já estamos numa condição melhor. E na busca de muita transparência, nossos recurso públicos servem exatamente para a população ter esse resultado efetivo, seja se sentindo representada, seja através de projetos que possa contemplar a população. Já definimos que vamos implantar uma agenda cidadã em que a Presidência estará aberta para escutar as demandas da população mediante agendamentos a partir de março. Estaremos atendendo qualquer cidadão para o tema que for. Se tiver ao nosso alcance, vamos encaminhar.

Também tem a obra da Câmara, que é um calcanhar de aquiles de todos os gestores que já passaram por aqui desde 2013.

Diário - Sobre a obra, passa presidente e pouco se avançou para um desfecho, seja pela continuidade ou demolição. Que encaminhamento, o senhor pretende dar?

Valdir - Um ano é curto, mas vamos tentar dar uma resposta concreta sobre o que fazer com essa obra. Esse é o nosso principal desafio. Tenho ideias a apresentar que ainda não vou adiantar. Tem um processo judicial com a empresa, o Ministério Público também tem dialogado (para uma solução do conflito judicial). Hoje, nós temos uma obra abandonada com recursos públicos e temos a Casa (atual prédio) que precisa de uma revigoração, uma reforma que dê condições de se trabalhar. Temos uma obra abandonada e outra em situação precária. Para melhorar aqui, precisamos ter desfecho daquela obra.


Foto: Eduardo Ramos (Diário)/Ao lado do atual prédio do Legislativo, a obra da nova Câmara está paralisada há 8 anos

Diário - Uma comissão especial chegou a ser proposta no final do ano para acompanhar os desdobramentos da obra, mas acabou sendo adiada, motivo de muita polêmica. A comissão vai ser criada?

Valdir - A polêmica se deu porque, quando tu crias uma comissão especial, tu nomeias um servidor para ser o secretário dessa comissão. E todas as comissões no período de recesso param o trabalho, então não teria sentido criar uma comissão se iríamos entrar no recesso. A comissão tem um prazo de três meses e ela ficaria prejudicada. Agora, como presidente, eu acho importante que seja criada, mas tem que ser proposição de algum vereador. Mas, independente dessa condição, já estamos tratando isso com nosso procurador.

Diário - O ano de 2021 foi bastante conturbado no Legislativo, principalmente em algumas sessões, embora seja uma Casa política e o debate é natural. Como o senhor pretende conduzir trabalhar para apaziguar os ânimos?

Valdir - Quem me conhece sabe que sempre tive posições firmes e fui líder de oposição durante anos, mas nunca ultrapassei o limite da ética e do respeito e que isso nunca impossibilitou as relações, sejam políticas ou pessoais. E, eu, como presidente, vou, em primeiro lugar, primar pelo cumprimento do Regimento Interno.

Esse ambiente não é bom para ninguém e, eu acredito, que esse primeiro ano teve um efeito de resquícios da disputa política municipal. As feridas da eleição continuaram abertas durante todo o ano. E no segundo turno, existia a expectativa muito grande de vitória de ambos os lados, e quando um lado se frustrou. Então, isso gerou essa relação conflituosa. E muitos vereadores, principalmente no primeiro mandato, tinham expectativa, muitas vezes, de exceder aquilo que é o limite do seu mandato, aquilo que realmente é o papel do vereador.

Diário - O senhor foi eleito com o apoio do PSDB. Parte da população tem dificuldade em entender um acordo entre PT e PSDB, dois partidos reconhecidamente rivais. Como o senhor explica isso à população?

Valdir - Os acordos e apoios para a gestão do Poder Legislativo não são acordos políticos, são acordos administrativos. Até porque não temos afinidade política com o PSDB em relação à política ideológica. Nem com o Republicanos, nem com o DEM. E são partidos que nos apoiaram. Então, foi muito plural. Foi, então, um acordo administrativo. E me sinto muito honrado por ter esses apoios.

Diário - E como será a relação da Presidência do Legislativo com o governo Jorge Pozzobom (PSDB)?

Valdir - Nossa relação é institucional: cada um cumpre seu papel. E tudo aquilo que for encaminhado pelo Executivo, todos os projetos que vierem pra cá terão um tratamento completamente imparcial. Eu, na condição de gestor, e toda a equipe teremos essa orientação. Aqui não existirá facilitação ou dificultação de nada, nós vamos seguir rigorosamente o que a lei determina. E queremos muito que todos os Poderes tenham uma relação harmônica para o bem da cidade.

O desgaste da Assembleia Legislativa com o reajuste da cota parlamentar

Relação harmônica não significa que seremos a favor de tudo e nem contra tudo. Se for bom para a cidade, sempre vamos colaborar. Como presidente, eu represento todos os vereadores, todos os partidos. Entre os sete membros da Mesa Diretora, tem só uma vereadora da base do governo. Só a vereadora Lorena. Então, é um poder totalmente independente e que queremos dialogar muito com todos os Poderes. Nós estaremos cumprindo com aquilo que a constituição determina.

Diário - A vereadora Marina Callegaro, que é do seu partido, apresentou atestado médico (ela está grávida de 26 semanas) e não votou na eleição da Mesa. Depois, ela divulgou uma nota em que acusou o senhor e, especialmente, o vereador Ricardo Blattes de pressioná-la em uma reunião, contrariando a posição do PT que combate o machismo. O que aconteceu de fato na reunião? A discussão era pela divisão dos cargos na Mesa?

Valdir - Todos os partidos têm seus debates internos e isso é saudável. E sempre respeitei que as questões internas sejam resolvidas internamente. Às vezes, exagera-se muito quando se expõe muito, um grão de areia se transforma numa montanha. Respeito muito meus colegas. E respeito muito tanto a vereadora Marina quanto o vereador Blattes. E não vou fazer aqui afirmações, mas algumas coisas são importantes. Muitas reuniões ocorreram. A bancada que me indicou (para presidente). E a primeira exigência que eu fiz foi que todos os vereadores se comprometessem a indicar seus melhores quadros para a gestão da Casa. Existem alguns interesses, algumas coisas que pesam em alguns momentos.

Quem é situação e oposição na Câmara de Santa Maria 

E a questão de colocar uma pecha de machista no vereador Blattes, isso eu rechaço com veemência. Quem conhece o vereador Blattes sabe que ele não tem esse viés machista, pode em alguns momentos, às vezes é do perfil dos advogados, ser mais contundente na defesa de uma ideia, mas isso de machista, eu não concordo.

O mal-estar gerado entre a vereadora Marina e o PT

Eu gostaria muito, com certeza, de estar aqui na condição de presidente e de ter tido o voto da vereadora Marina, vereadora importantíssima, ela teve apoio total aqui na Casa por todos nós quando ela apresentou o projeto sugestão e o governo implementou o Auxílio Inclusivo com recursos aqui da Câmara. E isso só se efetivou com o apoio de todos aqui da Câmara. E, infelizmente ela acabou não podendo vir votar, quem somos nós para questionar um médico que emite um atestado de afastamento. E felizmente, ela se restabeleceu bem rápido. Essas arestas, eu acho que agora o partido com certeza vai dialogar tanto com a vereadora Marina quanto com o vereador Blattes. Precisamos pensar neste momento em desenvolver nosso trabalho da melhor forma. Quem votou em mim ou não votou, terá o mesmo tratamento. Sou presidente de todos agora. Com respeito e igualdade.

(Colaborou Leandra Cruber)


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

VÍDEO: em coletiva, presidente da Câmara Municipal defende trabalho remoto para vereadores e demais funcionários

Próximo

Justiça Eleitoral e Estadual retomam atendimento nesta sexta-feira

Política